I
- A crítica é um trabalho de violência: coloca as obras diante daquilo que elas
não são, impondo-lhes um critério que lhes é exterior.
II
- A crítica é comprometida: responde por uma imagem de mundo e de literatura.
Nesta estrita medida, a crítica é sempre programática — confronta aquilo que as
obras são com aquilo que elas poderiam ser.
III
- A crítica é o lugar de uma experiência tanto afectiva quanto racional. O
distanciamento e a proximidade são, na mesma proporção, a sua condição.
I
- A crítica é um produto do risco. A possibilidade de erro é directamente
proporcional ao risco assumido.
V
- A crítica é um trabalho contra o mundo, contra a literatura. Se esta é um
movimento de produção do mundo através da modelação de representações, a
crítica é um trabalho de subtracção do mundo a si mesmo.
VI
- A crítica é um exercício sobre a linguagem. Na literatura, como em todas as
artes, o mundo tem tamanho da linguagem na qual se produz. O sentido de uma
representação é função da linguagem com que se realiza. As suas potenciais
riqueza experiencial, densidade semântica, e valor, estão-lhe indexados.
VII
- A crítica não é um instrumento de mediação: é parte do processo de
constituição da coisa em representação.
VIII
- Enquanto instituição, a crítica é sempre supletiva. Enquanto olhar interior à
produção e à recepção, é constituinte.